quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Seppuku 切腹

Seppuku ou Haraquiri


     Seppuku (切腹, lit. "cortar o ventre"), vulgarmente conhecido no ocidente por haraquiri ou haraquíri (腹切 ou 腹切り), refere-se ao ritual suicida japonês reservado à classe guerreira, principalmente samurai, em que ocorre o suicídio por esventramento. Surgiu no Japão em meados do século XII generalizando-se até 1868, quando foi oficialmente interdita a sua prática. A palavra haraquíri, embora amplamente conhecida no estrangeiro, é raramente utilizada pelos japoneses, que preferem o termo seppuku (composto pelos mesmos caracteres chineses por ordem inversa). O ritual de estripação normalmente fazia parte de uma cerimónia bastante elaborada e executada na frente de espectadores.
     O método apropriado de execução consistia num corte (kiru) horizontal na zona do abdómen, abaixo do umbigo (hara), efectuado com um tantō, wakizashi ou um simples punhal, partindo do lado esquerdo e cortando-o até ao lado direito, deixando assim as vísceras expostas como forma de mostrar pureza de carácter. Finalmente, se as forças assim o permitissem, era realizado outro corte puxando a lâmina para cima, prolongando o primeiro corte ou iniciando um novo ao meio desse.  Terminado o corte, o kaishakunin (介错人) realizava a sua principal função no ritual, a decapitação.
     Tratando-se de um processo extremamente lento e doloroso de suicídio, o seppuku foi utilizado como método de demonstrar a coragem, o auto-controle e a forte determinação característicos de um samurai. Como parte do código de honra do bushido, o seppuku era uma prática comum entre os samurais que consideravam a sua vida como uma entrega à honra de morrer gloriosamente, rejeitando cair nas mãos dos seus inimigos, ou como forma de pena de morte frente à desonra por um crime, delito ou por outro motivo que os ignominiasse. Outras razões estavam por detrás destes corajosos actos, como a violação da lei ou o chamado oibara (追腹), no qual o ronin (浪人, lit. "homem onda"?) após perder o seu daimyo (大名, lit. "senhor feudal") seria compelido à prática do seppuku, exceptuando-se casos em que o seu senhor por escrito impedia tal costume.



Fatores culturais do suicídio
     A história japonesa está repleta de relatos de pessoas que cometeram seppuku e outras formas de suicídio; a arte e literatura do Japão há muito que exalta o suicídio como um meio nobre de expiar a vergonha. Para uma visão geral de todos os meandros do comportamento japonês e processos mentais inconscientes discutidos na literatura, o seppuku trata um assunto extremamente complexo que se encontra enraizado na história e cultura da sociedade nipónica. O suicídio no Japão trata um complexo comportamento humano que incluí vários processos inconscientes, e para ele faz-se necessária uma interpretação multidireccionada, a partir de uma perspectiva biopsicossocial. Deste modo, o suicídio não deve ser analisado segundo um ponto de vista psiquiátrico ou outro cultural, mas a partir de uma abordagem completa dessas variáveis.
     O haraquíri era um privilégio das classes superiores, enquanto que o shinjū forma de suicídio cometida entre pessoas íntimas, amantes ou familiares, era mais comum entre os plebeus. O ato de suicídio japonês em geral é associado a um significado de valor ou vingança, à salvação do nome ou fama da pessoa ou da família. 
       A análise do suicídio é de suma importância para a compreensão da cultura japonesa. Nesta sociedade, existe um intenso e irresistível desejo por parte do povo japonês, de estabelecer uma identidade por pertença a um grupo. Um forte senso de união (ittaikan) é gerado inconscientemente entre o grupo e é manifesta uma sensibilidade social sobre eventuais rupturas na harmonia dessa relação. O ostracismo do grupo é de toda a forma evitado. Pressões de adaptação a um padrão limitado de comportamento e pensamento e a expectativa de um total compromisso de acompanhamento desse grupo, são factores incontornáveis do pensamento japonês.
     A consequência disso é que tanto o orgulho como a vergonha de um indivíduo são compartilhados pelo grupo e vice-versa. A vergonha, consciente e inconsciente, é, portanto, bastante poderosa e muitas vezes é um factor importante para o suicídio no Japão. A culpa está envolvida em relações de reciprocidade, nas quais um favor "on" é acompanhado pelo fardo do dever de lealdade (giri), que pode ser muito intenso e instável a nível emocional (isto contrasta com a noção de culpa presente no ocidente que resulta de um sentido interno de que algo de errado foi feito). Este sentido de um interminável "dever" infiltra-se no inconsciente dos japoneses, especialmente em relação aos que têm tido uma preocupação cuidada sobre si mesmos.
     O seppuku, marcou incontestavelmente a história e cultura do país. Factores de risco que levam ao suicídio são atualmente comparáveis aos presentes noutros países. Esses fatores de risco incluem distúrbios psiquiátricos, abuso de drogas, tentativas de suicídio anteriores, falta de sistemas de apoio social, idade avançada, vários tipos de perda, reportório familiar de suicídio, propensão a acidentes, entre outros.Dois exemplos de suicídio peculiares no contexto japonês, o shinjū e inseki jisatsu, são temas recorrentes da atual sociedade nipónica.



Site: https://pt.wikipedia.org/wiki/Seppuku

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